domingo, 15 de maio de 2011

Mario de Sá-carneiro

Segundo Fernando Pessoa " Sá-Carneiro não tem biografia, só génio", mas quem conhece esse génio? Quem não associa somente a uma sombra do Pessoa? Estou no momento descobrindo o génio, estou lendo as poesias completas de Sá-Carneiro, que não são muitas, pois morreu jovem aos 25 anos, assim como Rimbaud. Até na acadêmia , tanto no Brasil como em Portugal seu nome vem associado somente ao primeiro movimento modernista português e nada mais. Bem vamos a ele:


ESTÁTUA FALSA

Só de ouro falso os meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minha'alma desceu veladamente.

Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram,
Como Ontem, para mim, Hoje é distância.

Já não estremeço em face do segredo;
Nada me aloira já, nada me aterra:
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de medo!

Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida ao ar...

                              Paris 1913 - maio 5.

1 comentário:

  1. eu gosto muito dele. gay, gordo, escreveu muito sobre o não ser, tão depressivo quanto Florbela Espanca foi.

    vai fundo!
    beijo

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